Um servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), identificado pelas iniciais WTN, foi preso em flagrante pela Polícia Federal por espionagem no próprio órgão. O caso expôs a fragilidade na proteção a dados em áreas sensíveis do Estado e acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto, que quer um esclarecimento rápido da extensão dos danos e dados obtidos pelo espião. Órgão de assessoramento para tomada de decisões da Presidência da Republica, a Abin é vinculada ao Gabinete da Segurança Institucional (GSI).
A prisão do araponga ocorreu na última sexta-feira a pedido da própria Abin, que havia verificado "fluxo atípico de dados em uma estação de trabalho" em sua sede, segundo nota divulgada pelo GSI. No momento da prisão, o espião preso já havia conseguido hackear 238 senhas de agentes envolvidos em investigações estratégicas, conforme notícia publicada nesta quinta no jornal Correio Braziliense. "As atividades desenvolvidas nessa estação foram acompanhadas, identificando-se diversas ações vetadas por regulamentos e normas legais", diz a nota.
Por se tratar de assunto sensível e não se conhecer a extensão dos dados violados, ou para quem estavam sendo vazados, o caso está sendo tratado sigilosamente, por ordem da 10ª Vara da Justiça Federal. Mas o segredo excessivo serviu para alimentar versões conflitantes. O ministro chefe do GSI, general José Elito Carvalho, cobrou rigor nas investigações.
WTN tem 35 anos e seria lotado na área de informática da Abin. Ele responde a inquérito criminal por violação de sigilo, cuja pena é de até dois anos de reclusão e a processo administrativo, que pode resultar em demissão do cargo. A prisão ocorreu na tarde da última sexta-feira, quando agentes da PF infiltrados na repartição deram flagrante no servidor no momento em que ele acessava dados de áreas em que não tinha permissão. O espião pagou fiança de 3,5 salários mínimos e foi libertado no sábado para responder a processo em liberdade.
A Abin tem entre suas missões promover e proteger informações consideradas estratégicas para o Brasil, por meio do Programa Nacional de Proteção do Conhecimento Sensível. Cabe ao órgão ainda investigar e prevenir, com ações de inteligência e contrainteligência, potenciais atentados contra a presidente da República e instalações sensíveis à economia e a infraestrutura do país.
O GSI assegurou que a agência realiza, sistematicamente, a monitoração de todos seus sistemas informatizados e redes institucionais. Essa rotina tem por objetivo "garantir a segurança e detectar eventuais falhas operacionais ou atividades não autorizadas", explica a nota. A PF informou que mandou uma equipe à sede da Abin, por requisição da própria agência e verificou "um flagrante de possível violação de sigilo funcional".